Está Preparado para Envelhecer?
Sei que a palavra envelhecer pode causar desconforto na maior parte das pessoas.
Afinal a palavra envelhecer, envelhecimento, velhice, velho, leva-nos para imagens de decadência, doenças, feiúra, pele enrugada, corpo curvado, rabugice, e todas a conotações negativas que existem.
Quais as figuras que mais aparecerem quando se fala na velhice?
Imagens negativas, que todos queremos fugir como o “diabo da cruz”.
Ao contrário eleva-se cada vez mais a eterna juventude, a beleza, a jovialidade, a energia, a força e a saúde.
Basta aceder diariamente às redes sociais, e a imagem do velho é normalmente associada a episódios de negatividade, repulsa, e até mesmo de auto-comiseração.
Ora esta forma de encarar a velhice, o envelhecimento, o envelhecer e o velho, traduz-se amiúde em estereótipos, preconceitos ou discriminação, que por sua vez se transforma em idadismo (discriminação em função da idade) e em particular em velhismo (discriminação para com os mais velhos).
De uma forma geral, a velhice tanto é uma fase temida por aqueles que ‘ainda lá não chegaram’ como uma fase ‘mal vivida’ pelos que nela já se encontram. Reflexo deste temor encontra-se a sobrevalorização da juventude, exemplo da recusa das alterações do envelhecimento, sendo a velhice desconsiderada e perspetivada como uma inevitabilidade funesta (Nelson T.D., 2005).
O que nos leva a entender o envelhecimento não só com as alterações biológicas e psicológicas, mas também com as condicionantes sociais existentes, reflexo dos padrões dominantes e da forma como as sociedades vivenciam e lidam com a passagem do tempo (Minois, 1999).
A noção de velhice ou de envelhecer – categoria social que em termos cronológicos tem lugar aos 65 anos de idade na maioria dos países desenvolvidos – e a categorização das diferentes fases da vida são, deste modo, traçadas quer em termos individuais quer culturais e sociais.
A verdade é que o envelhecimento é a nossa “próxima morada”, a não ser que, por alguma razão, doença ou acidente, não passe a esta fase da vida.
E é isso mesmo. O envelhecimento, a velhice, envelhecer e o ser velho é uma fase da vida, igual como as outras.
Porque quando se fala em velho e envelhecer, vêm logo imagens negativas?
Porque não olhar para um velho como um ser igual, mas mais velho, com sabedoria, experiência e que ainda muito têm a oferecer?
Quando iniciei esta minha formação na área do envelhecimento, uma das minhas maiores preocupação foi desmistificar a conotação negativa imposta aos velhos.
E quando penso e imagino o envelhecer, vêm-me logo à mente personalidades quesouberam envelhecer de uma forma que causa inveja a qualquer jovem ou adulto.
Penso logo na Jane Fonda, actriz, activista, uma senhora que dedicou toda a sua vida a imensas causas sociais e à área do fitness e que hoje na casa dos oitenta, é um exemplo de envelhecimento activo.
Penso logo em Diane Keaton, Meryl Streep, Tina Turner…..
E a nossa Eunice Munoz, Simone de Oliveira, que apesar de estarem na casa dos 70 continuar a oferecer valor à sociedade e à cultura portuguesa.
E, a nível pessoal, penso nos meus pais, a meio dos oitenta, que “atravessaram” a 2ª guerra mundial, o salazarismo, o 25 de Abril e que continuam aqui, activos, independentes e que ainda ajudam as suas filhas, ambas na faixa dos cinquenta.
O meu pai, que apesar de reformado, ainda continua a trabalhar, é massagista das camadas jovens do Club Sport Marítimo, no seu grande sonho: ajudar os outros a se sentirem bem.
E tantos outros, que não caberiam aqui neste artigo!
Então o que têm estes idosos em comum?
O que fizeram para hoje serem um exemplo de vida a seguir?
Eu respondo: Preparam-se para envelhecer!!!
Nunca negaram o envelhecimento.
Aqui não se tratou de negação!
Até porque a negação só traria desconforto e dor!
Souberam aproveitar todas as fases da vida, têm uma auto estima elevada, sempre foram valorizados profissional, familiar e socialmente e sabem que ainda podem contribuir e muito para uma sociedade de igualdade!
Têm um objectivo de vida!
Contribuir, ajudar, mostrar que ainda são capazes de grandes proezas!
Souberam cuidar-se física e psiquicamente para estarem nesta última etapa da vida no seu melhor!
Então como preparar-se para envelhecer?
Adoptando, desde muito cedo estilos de vida saudáveis.
Entre eles está a prática de actividade física regular, uma alimentação cuidada, não fumar, não beber em excesso, gostar de si, enfrentar os problemas como desafios e aprendizagem, controlar o stress e aceitar o envelhecimento como uma fase natural da vida.
Ou seja, tiveram comportamentos e atitudes saudáveis ao longo da sua vida.
E não se preocupam com discriminações, estereótipos ou outras formas de diminuição.
Ao contrário, fazem questão de mostrar e provar que ser velho é muito gratificante.
E termino com uma frase que a minha mãe, com 85 anos costuma dizer “Eu vou entrar com os meus pés para o caixão, na hora que eu quiser, quando eu quiser”.
Um abraço
Luísa de Sousa
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